Há dias em que não se escreve por desejo ou o que se quer, mas simplesmente o que a escrita nos exige. Sussura-nos algo ouvido, que vai crescendo ou desenha-nos imagens intermintentes, que vão e vêm, ganhando forma e nitidez, entrelaçando-se à mão como trepadeiras. Às vezes são pequenas frases, aparentemente sem sentido, ou palavras soltas que nos vão arranhando as pernas ou seguindo no caminho ao longo de vários dias, para, a certa altura, nos especarem diante de nós, à espera de um afago ou reação. A escrita chega mesmo a soltar-nos os cães. E nós ali, derrubados no chão, impotentes a sentir-lhe os dentes afiados ou as lambidelas ásperas na face. Há dias em que nada se tem para dizer e no entanto há algo que nos empurra, que nos embala. Algures, por essas estradas.
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