A vida é um suceder de acidentes, uns atrás dos outros. sem os controlares. e tu não percebes nada. tu nunca percebes nada. mas também ninguém disse que a vida é para ser percebida. é apenas para ser vivida, assim. sentida, mordida, respirada ou chorada até às entranhas, mesmo sem a perceber. uma vida apenas é manifestamente insuficiente para a poder perceber. e tu nunca percebes nada. tu nunca percebes nada. chegas, tantas vezes, a evitar um abismo sem sequer o vislumbrar ou a tocar no destino como se ele estivesse ali, escrito, a estender-te a mão. e tu dando-lhe a tua, sem perceber nada. tu sem nunca perceber nada de nada. e quando, avançando na idade, te achas quase quase capaz de a perceber um pouco melhor, estás talvez apenas conformado sem o admitir. até que, finalmente, um acidente te colha de frente. mesmo em cheio. toma! pum! e com ele, se a tiveres vivido bem, num rebobinar de longos segundos brancos, essa sensação estranha de ter valido a pena chumbar no exame sem nunca a ter copiado pelo colega do lado.
2 comentários:
há dias em q saio com vontade de ficar a (re)ler.
Gosto muito.
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