Gosto de bairros históricos e de casas antigas. Gosto do seu tempo mais lento e espesso, mais perdido, mais escondido, e da surpresa do moderno que pode morar por detrás duma porta centenária. Gosto de pensar no que as fachadas já presenciaram, nas histórias que guardam, nos segredos que lhe foram confinados, tocando, ao longo do tempo, as suas paredes gastas. Gosto do barulho do soalho e do burburinho nas ruas pequenas, ecoando nos pés-direitos altos. Gosto da luz sépia, que aquece e apetece guardar dentro das gavetas. Gosto dos gatos vadios, entreparados nos telhados anónimos e do vento por companhia. Gosto dos pátios recolhidos para as traseiras, que não se deixam aperceber do exterior, e das varandas viradas para o céu ou para o rio. Gosto de me perder por lá, nos finais de tarde, nas noites estreladas, num cintilar tilintante de gelo num copo ou num respirar mais fundo e demorado, numa fotografia que se guarda nos olhos por muito tempo. Gosto de bairros históricos e de casas antigas, que me levem para longe, que me levem para trás ou para a frente do tempo, que me levem para onde nunca estive ou fui.
1 comentário:
Tive o privilégio de morar num bairro histórico de Lisboa e identifico-me com esta tua reflexão. Que saudades que eu sinto de percorrer aquelas ruas…
kisses
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