Nunca vi uma pessoa ocupar tão pouco espaço como ele nessa tarde à medida que fragmentos indecisos principiavam a unir-se em mim, membranas transparentes e essa espécie de lágrimas que nos acompanham toda a vida, algumas vezes nas pálpebras mas a maior parte do tempo ocultas de nós, numa das pregas de desconsolo de que somos feitos, se conseguisse contar-vos, e não consigo, o que nos rói sem sabermos, o que custa sem darmos fé omitindo os segredos estrangulados e as misérias conscientes, tanta boneca falecida, tantos olhos só nossos que nos censuram [...] eis o António Lobo Antunes a saltar frases não logrando acompanhar-me e a afogar num tanque os gatinhos que sinto para se desembaraçar de mim
António Lobo Antunes,
in "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?"
ainda agora comecei e já estou sem palavras...
2 comentários:
Fico sempre sem palavras com ele... mas é um silêncio delicioso, que me afaga e me aquece, que me impele a qualquer coisa que nunca sei muito bem explicar!
Beijo grande e Bom 2010!
Hum, as palavras envolvem-nos de uma tal forma... fiquei curiosa.
Beijinhos
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