1.31.2010

Always!


Aimee Mann, Save Me

[ But can you save me?
Come on and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone ]

1.30.2010

Última

As pessoas dão demasiada importância à primeira vez. E a última vez? Ninguém pergunta pela última vez. A última. A última de todas. A última das últimas. A última depois da qual não há mais nenhuma.

Pedro Mexia

1.29.2010

Viver

O homem que começa a viver mais seriamente por dentro,
começa a viver mais singelamente por fora.

Ernest Hemingway

1.28.2010


Uma cover diferente, das poucas, que ainda não conhecia dos "meus meninos"


Dream on, Depeche Mode by Scala & Kolacny

The Macgyver way


Sabem como liquidar dez pessoas chatas numa reunião com apenas 1 cartão de visita e 50 cêntimos trocados? Fácil! Querem ver?

1.25.2010

Pequena ajudinha

Ando a pensar nesta:
já que, lamentavelmente, não tenho orçamento para esta:

pelo menos, a lente é da mesma família.


Gostava, no entanto, de uma possível ajudinha de verdadeiros entendidos no assunto,
para saber se é realmente uma boa escolha ou se encontro soluções mais interessantes dentro desta gama de preços.

1.24.2010

Eterno

Conta-me essa história, sim, se achares que deve ser, que tem de ser. Mas fá-lo sempre como quem dela esqueceu a maior parte e não consegue lembrar-se do desfecho, final feliz ou não. Assim, escutá-la-ei até ao teu silêncio como um romance antigo, meio lido, perdido agora entre outros numa estante e para sempre incompleto. As outras histórias, de amanhã ou depois, hei-de ouvi-las inteiras: são livros por escrever, lugares distantes, coisas por inventar no tempo que aí vem, nomes que não se adivinham nem magoam.

Maria do Rosário Pedreira

1.23.2010

Estremeces-me


Beethoven, Symphony No.9


Como dizia a minha professora de piano, existem os compositores e Beethoven, os primeiros compõem e tocam enquanto ele faz estremecer as paredes aos primeiros acordes. Concordo, e tenho saudades dela.

A vida não é...

1.21.2010

Gestos lentos

no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência

Al Berto

1.20.2010

Migração

Ah
não me venham dizer
oh
não quero saber
ah
quem me dera esquecer

só e incerto é que o poema é aberto
e a palavra flui inesgotável!


José Tolentino Mendonça

1.16.2010

Abraços

"Os filmes foram feitos para serem acabados, mesmo que seja às cegas" e "a última sensação que levou deste mundo foi o sabor da tua boca" num abraço [não roto], lento, infinito. Demorado em frases soltas.


Los abrazos rotos by Pedro Almodovar

1.14.2010

Poesia


1.
Aristóteles diz que "As pedras grandes caem mais depressa que as pequenas", e Galileu diz: "Não! Está enganado, caem todas do mesmo modo" e nenhum deles atira uma pedra, pensam apenas. É tremendo, mas Galileu acerta "É assim que caem as pedras", sem atirar nenhuma pedra diz: "É assim que caem as pedras", isto é um poema. Uma coisa é a literatura, outra, completamente diferente, é a poesia. "É assim que caem as pedras", isso é um poema, isso é a poesia.

2.
- Uma palavra a mais pode matar um poema?
- Mata-o... As matemáticas são as mais exactas de todas as ciências, mas a poesia é a mais exacta de todas as letras, portanto os excessos matam-na.

3.
Um poeta é maduro quando é capaz de pegar num verso bom e atirá-lo à rua. Custa, dói, mas sacrifica tudo por um bom poema.

4.
A poesia impõe a ordem à desordem que é a morte. É a última casa da misericórdia.


Joan Margarit


Retirado de uma entrevista sua soberba. Uma agradável surpresa, dum poeta que não conhecia mas que me apetece descobrir.

1.12.2010

Fragmentos de uma tarde

Nunca vi uma pessoa ocupar tão pouco espaço como ele nessa tarde à medida que fragmentos indecisos principiavam a unir-se em mim, membranas transparentes e essa espécie de lágrimas que nos acompanham toda a vida, algumas vezes nas pálpebras mas a maior parte do tempo ocultas de nós, numa das pregas de desconsolo de que somos feitos, se conseguisse contar-vos, e não consigo, o que nos rói sem sabermos, o que custa sem darmos fé omitindo os segredos estrangulados e as misérias conscientes, tanta boneca falecida, tantos olhos só nossos que nos censuram [...] eis o António Lobo Antunes a saltar frases não logrando acompanhar-me e a afogar num tanque os gatinhos que sinto para se desembaraçar de mim

António Lobo Antunes,
in "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?"


ainda agora comecei e já estou sem palavras...

1.11.2010

Paz

É engraçado como a escrita nos bate à porta e entra sem nos dar tempo de levantar, para a abrir. Quando damos por ela já nos invadiu por inteiro e temos de a soltar cá para fora. Passou toda a semana a preencher-me os espaços, a aconchegar-se com frases soltas e palavras avulso, pintando frescos por dentro com imagens ou fios suspensos como teias de aranha. Um novelo sem nexo ou vontade própria, que se junta, aos poucos, com nós firmes, à espera duma mão que os desate de novo para o papel. Sempre branco, sempre escasso.

É engraçado como não parte este peso dos olhos, como teima em não se levantar. Por mais que se durma, por mais que se descansasse ou se tente simplesmente não pensar em nada. Permanece, não sei se aqui se acolá, algures presente, impenetrável, um cansaço apoiado nos ombros. E dentro das pálpebras sorrisos de criança a brincar, saltando de nuvem em nuvem, arrastando o som da infância até ao futuro incerto.

É engraçado como escrevo sem vontade que me leiam, correndo o risco de captarem uma frase ou imagem errada, que não é para quem a lê, que se apanha por engano, e magoa ou fica a remoer. Que sabemos nós afinal? Nada disso, hoje, aqui, agora sou apenas uma espécie de árvore, imóvel mas que sente sem querer ser visto. Que sente as coisa que lhe tocam sem ter qualquer vontade de as tocar. Pássaros que vêm pousar e nos cantam ao ouvido. Algures distante, Imóvel, pesado.

É engraçado como sinto uma lareira apagada com uma ténue chama, quase invisível, mas que se sabe ter, que se sabe não apagada. Que se sabe no limite mas também se sabe poder recuperar. Com tempo. Com o tempo que só o tempo pode e sabe dar. Com o tempo necessário para cansar o próprio cansaço.

É engraçado como os olhos vêm ao longe um vidro de comboio molhado por lágrimas que nos partem por dentro, num pó cortante, moído. Um comboio em andamento, sem retorno. Ali, com ele o cansaço teima em não partir. Agarrado com as unhas pesado. Tão pesado.

É engraçado como se tem a certeza de querer recomeçar mas deixar tudo bem, tudo sarado, tudo em paz. É engraçado como não tem graça nenhuma. É engraçado escrever isto aqui. Apenas, talvez, porque me fez sentir melhor.


Escrito algures numa viagem distante mas necessária

1.10.2010

Regresso

Regresso para mim
e de mim falo
e desdigo de mim
em reencontro

os pontos
um por um:

o sol
os braços

ou os meus ombros

Trago para fora
o que é segredo
vantagem de saudade
o que é segredo

Retorno para mim
e em mim toda
desencontro já o meu regresso

Maria Teresa Horta

Assíduos do shaker

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