11.03.2009

Dizem

Sobrevoava a cidade num cansaço vagaroso. Elevado. Fazia-o na dormência de quem quer chegar a algum local, talvez a casa, mas precisa de libertar um último gesto, uma última carícia, ou um suspiro com o olhar. Planava sobre o rasto de luz dos carros em movimento, e deixava-se levar, pela corrente. Pairava sobre os prédios imóveis, que se transformavam em pontos pequenos, sobre a linha do horizonte. Voltava a descer, prendendo-se numa janela entreaberta, aqui, acolá. Sentia os abraços, as lágrimas ou os sorrisos, na distância segura de não ser visto, de não participar. Ouvia a beleza do eco de algumas palavras, que rebentavam nas paredes como bolhas frágeis, etéreas, sempre fugazes. Aquecia-se com o calor dos corpos a fazerem amor, protegendo-se da brisa suave que o voltava a puxar. Sentia-se pesado e caía como uma folha de Outono. Lentamente, em movimentos zonzos, circulares. Aterrou num riacho de lua, que seria música se não fosse água. Dizem que foi dar ao mar. Dizem que por lá ficou. Dizem, mas não se sabe ao certo.

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