Que as nossas palavras nunca fechem a porta.
Que permaneçam longas, num sabor de sal
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Eugénio de Andrade
5 comentários:
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Bonito, desconhecia!
Sónia,
Simplesmente amo as palavras e o meu poeta de eleição. Obrigado por entenderes também o seu mágico sabor. Obrigado pelo poema .)
XinXin
Pepita,
Ficas a conhecer. E caso não conheças outros do autor aconselho vivamente .)
XinXin
Eugénio conhecia os segredos das palavras.
[O sal, o mel e as tâmras maduras das palavras.]
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