"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem"
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem"
Bertolt Brecht
Esta noite despi-me de tudo. Da palavra. Do gesto. Do pensamento e da memória. Da vontade. Quis-me vazio de tudo. Invisível até de mim próprio. Quis-me silêncio total. Fundo do mar. Quis-me mais próximo do nada para ver, talvez, se algo sobrava.
Assim me deixei, flutuando com destino incerto. Como um rio tranquilo, após a tempestade. Fazendo notar o afastamento das águas apenas nos despojos, à tona, aqui e acolá. Esta noite despi-me de tudo e sem me despedir partiste também nesse rio.
15 comentários:
Às vezes, é bom que nos deixemos ir, sem pensar demais... ou não iríamos a lado algum.
XinXin
há "coisas" de q é impossível despedirmo-nos, mesmo depois de nos termos despido até à alma.
Há quem diga que nos não mudamos, quem nos muda e' o mundo que nos rodeia...
Por vezes para nos encontrarmos despimo-nos de tudo até de nós mesmos!
beijos
Por vezes, é quando nos despimos de tudo que encontramos «roupagens» que agora nos assentam melhor... Mas é natural que alguma «peça» se perca nessa transformação...
;)
...Também eu me despedi.E parti. E é segunda-feira, é noite e continuo despida de mim.
Por vezes temos mesmo que nos despir dessas coisas todas para nos voltarmos a encontrar. Gostei mais uma vez! bjs
quantas ruas existem depois de nossas despedidas? Por quantos caminhos nos deixamos ir?
Certamente o mundo dará suas voltas em minha ausência; também eu retornarei diferente depois das minhas despedidas: outros rios, outros mares; outras formas de enxergá-los.
Poético. Dialético.
Expressivo.
Gostei bastante.
Abraço.
Ricardo.
Gostei desse conceito de ver o que sobra. Enchemo-nos de tantas coisas que acabamos por ficar soterrados.
Beijinho
Muito bom, este texto!
É como esvaziar um recipiente para o voltar a encher de novo...
Gostei do teu texto tranquilo e ao mesmo tempo inquietante.
bjs
Isso é um exercício deveras difícil...
Como se pode descrever tanto com tão poucas palavras. Parabéns pelo texto.
Abraço
Palavras poéticas, simples mas de uma intensidade avassaladora.
LINDO!
Sem palvra, sem gesto, sem pensamento, sem memória...vazar o espírito e renovar-se.
Que vontade que me deu...
esta é a prova que um texto não necessita de rima para ser poético. valeu a pena passar por aqui e conhecer seu espaço. abraço!
também participei em http://blog-do-otario.blogspot.com/2010/06/estava-vazio-para-fabrica-de-letras.html
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