8.07.2008

Vestígios

Estendida no quente areal. Adormecia a pele em tons de chá. No tépido calor daquela praia. Deserta. Perdida no tempo. Algures, entre a inércia e um espreguiçar. O sublime conforto da entrega do corpo àquela réptil hibernação. Soltara as velas aos pensamentos para os abandonar para sempre. Apenas um corpo. Despido. Uma oferenda aos Deuses Incas. E aquele calor, dissipando-se. Inundando a alma. Embalando no ondular do mar coberto por um céu infinito.

Adormeceu com a brisa a fazer-lhe festas nos cabelos. Sentiu texturas de ouriços, algas e anémonas. Viu cores inimagináveis. Ouviu cânticos de sereias. Aveludadas inocências e espirais de abismo. Em alternância. Os extremos também se tocam. Lembrava-se de o ter pensado, e de se ter sentido tocada, exactamente aí. Naquele extremar de sentidos e sensações. Algures. Em parte incerta. Naquele calor hieroglífico de Rá.

Regressou finalmente em peixe, ancorando em coral. Acordou extremecida com o beijo mais fresco e salgado que algum dia existirá em terra firme. Na pele quente e bronzeada com vestígios daquela viagem. Entre o sonho e a realidade. Entre o segredo e o delírio. Por entre vestígios dum deitar fecundo no estenso areal.

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