3.07.2008

A menina aflita

“Se uma laranja não for descascada com um sorriso saberá mal. Isto foi o que a avó ensinou. Na faculdade aprendi outras coisas, mas nenhuma mais importante”.

Francisco M. Tavares


A menina aflita relia o livro de apontamentos pela última vez. Como um maestro inseguro. Gesticulando mnemónicas no ar. Presas ao espaço. Obesas. Desprovidas de som.
O tempo corre, veloz, e a menina aflita.

A menina aflita levava as mãos aos olhos, que se fechavam, cerrados. E novamente um gesto, no ar. Chegando a levantar a dúvida se seria muda. Os nervos propagam-se na lentidão da noite.
O tempo esvai-se, insensível, e a menina aflita.

A menina aflita é bonita. Ou feia bonita. Não sei. Nova, isso sim. Tão nova. Nova demais. E parecia que naquele velho livro de apontamentos, de letra redonda, residia o mais geométrico e rectilíneo dos destinos. O tudo ou nada.
O tempo está a acabar e a menina também, de tão aflita.

Chamou-me o olhar, aquela menina aflita.

2 comentários:

Andrómeda disse...

Agora anda a espiar meninas aflitas em cafés?... ;)
E se alguém o estiver a espiar a si? ... já pensou nisso?

Dry-Martini disse...

Mas quem é que lhe disse que ando a espiar? Mas quem é que falou em café? Mas quem teria interesse em espiar-me? Anda pouco antenta, minha cara Watson .)

Assíduos do shaker

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