12.31.2008

Dois mil e oito odisseia na terra

Repleto. Frenético. Instável. Intenso. Mudanças. Dúvidas. Certezas. Avanços. Recuos. Descobertas. Distâncias. Proximidades. Ausências. Encontros. Desencontros. Surpresas. Dejasvus. Aprendizagens. Momentos. Fraquezas. Sorrisos. Mágoas. Chuvas. Desertos. Palavras. Gestos. Músicas. Livros. Quadros. Referências. Inutilidades. Pessoas. Lugares. Marcas. Tatuagens. Rugas. Cozinhados. Sabores. Texturas. Carícias. Noites. Dias. Escuridão. Brilhos. Mergulhos. Vontades.


Cada vez faço menos planos. Cada vez gosto menos de balanços. Penso, no entanto, terem-se verificado a maioria das 12 passas. Para 2009 mantenho-as, com destaque para o tempo. Nada mais. Tempo para parar. Tempo para respirar. Tempo até para ter tempo para pensar. Um pouco mais em mim que nos outros (desta vez).

O que mais assusta não é a mudança ou rapidez da vida. O que mais assusta não é impotência para o alterar. Assusta sobretudo não ter tempo para reflectir nelas, para reagir em vez de agir. Senti isso muitas vezes neste ano que agora passa. Assim foi dois mil e oito, em poucas e simples palavras. Que saudades de dois mil e um...

Bom ano a todos, com tempo e tudo o que quiserem.

12.30.2008

Declaração de agradecimento

Este espaço é como a mercearia de bairro antiga: tem poucas visitas mas conhece os seus clientes pelo nome. É como gosto dele. É como gosto de todos .)

XinXin

12.29.2008

Valentina


Chopin, Nocturne in C Minor

"It’s very difficult for me to say only two sentiments about it because… also is very difficult because is... very... my composer so you can’t say usually something about your parents, about your closed friends, about… so I can’t say anything about Chopin… I just… I live with him…in my soul… all the time… and that’s it." [o inglês não é famoso porque a menina é russa]

Valentina Igoshina


Adoro Chopin e adoro esta menina. Adoro adoro adoro. É com ela que me despeço de 2008 em termos musicais. É com ela que viajo para 2009.

Amor

"O verdadeiro amor não se desgasta.
Quanto mais se dá, mais se tem.”

Antoine de Saint-Exupéry

12.28.2008

Fetish

Um texto.
Onde te revês a cada passagem. A cada palavra lida num tom grave e pausado. A cada imagem provocando os sentidos. Despertando uma vontade estranha de relê-lo vezes sem conta. Um texto sentido na pele e no sangue. Sentido na plenitude. Em cada pausa. Em cada respiração. Na escuridão dos olhos cerrados. No brilho quente do eco das suas palavras. Senti-lo próximo. Próximo demais. Num desejo que repassou do papel para o interior do corpo.

Um encontro.
Onde nada faz sentido e tudo é, no entanto, tão certo. Tão natural. Tão inevitável. Um encontro onde não são necessárias quaisquer perguntas ou quaisquer respostas. Onde não existe antes nem depois. Passado nem futuro. Apenas um momento roubado ao mundo, roubado ao tempo. Um momento inventado só para si. Onde as palavras partiram para longe com os pássaros. Exaustas. Esgotadas. De tão vorazmente sorvidas da sua matéria etérea de bolha frágil. Absorvidas nos poros da pele, deslizando nas curvas dos lábios numa estranha alternância. Fresca, quente. Quente, fresca. Uma alternância das imagens que se querem tácteis.

Uma descoberta.
Um desejo fundo aprisionado. Crescendo assombroso. Uma sede desconhecida. Quase demente. Estranha, de tão forte. De tão improvável ou absurda. Mas verdadeira. Crua. A descoberta de desejar loucamente no interior desse texto proibido. Perdido em si mesma. Ainda sem final. Perdido talvez dentro de nós. Agora descoberto.

Um olhar. Um toque. Um cheiro. Um sabor.
Uma palete de sentidos entrelaçados num jogo de prazer. Prolongando-o lentamente. Esticando-o ao limite em gestos adocicados que transbordam para os lábios o sal do seu veneno. Alastrando num ópio de fogo no sangue, na pele, e neste suspiro de querer. De te querer, assim. Sem uma única palavra.

Arrepio

Sinto-te demais...
... e isso assusta

12.27.2008

Cavalos de giz

Nenhuma pessoa é igual
Nenhuma desilusão será maior que a anterior. Que a próxima.
Nenhuma certeza sobreviverá ao tempo
Nenhuma chuva chegará para apagar o cavalo alado dos teus sonhos de giz
Nenhuma saudade será lembrada para todo o sempre
Nenhuma descoberta asfixiará na redoma de cristal com que te vestiste
Nenhuma erva deixará de crescer onde menos se espera
Nenhuma coincidência deixará de surpreender o mais sábio
Nenhuma música deixará de te embalar os sentidos
Nenhuma palavra te dirá mais que um simples olhar


Para uma certa menina, com quem gosto muito de conversar, nunca deixar de sonhar

There she goes

The La's, There she goes


[ There she goes
There she goes again
Racing through my brain
And I just can't contain
This feeling that remains ]

12.26.2008

A arte do que somos

"Mas em nada se parece comigo, Pablo" disse ela.
"Mas certamente vai parecer, Gertrude, certamente..." respondeu o pintor.

Diálogo entre Stein e Picasso


Por uma associação que me escapa vem-me à ideia Gertrude Stein a morrer.
- Qual é a resposta?
dizia ela, e como os outros calados insistiu
- Então qual é a pergunta?
e eu com estas duas frases a perseguirem-me. De certo modo acho que, postas assim desta forma uma após a outra, resumem o que é escrever. A arte é apenas isto, qual é a resposta, qual é a pergunta. E a arte é apenas isto porque somos apenas isto.

António Lobo Antunes

12.25.2008

Talvez

Apercebemo-nos que precisamos meditar, um pouco, sobre a nossa maneira de ser quando queremos pensar que a razão de uma pessoa chegada nem nos ter desejado as Boas Festas deve ser por (talvez) não ligar muito à quadra Natalícia.

12.24.2008

Nightmare Before Christmas

Isto do Natal ser quando um Homem quer tem muito que se lhe diga... E quando um Homem não quer? É possível adiar? De qualquer forma Boas Festas a todos...

12.23.2008

Touro tranquilo

Avança em passos negros
Firmes. Precisos.
Vestindo apenas o sangue quente
para abraçar a morte do último beijo

Avança em passos negros
Consciente do vazio de fim que se abre para trás
No largar das mãos. No baixar dos braços
Uma fenda que rasga a terra e a carne. Na distância.

Avança em passos negros
Com cento e uma imagens da dança de suas lides
Repletas de vida. Plenas de sentidos
Algo que nem todos vivem. Por quem muitos morreriam

Retirada a espada da sua passagem funda
Cravada algures. Eis que pára o Touro
Caindo finalmente na arena
Numa cor de noite cálida

A mais negra
A mais sombria
A cor dos passos negros
Sem mais caminho para andar



12.22.2008

O músico que não fazia encores

O músico que não fazia encores só tocava no silêncio total. Ao mínimo ruído simplesmente parava. Mas, na realidade, nunca precisava de o fazer, pois todos se calavam naturalmente para o ouvir tocar. Num espanto imóvel, quase assombroso. Que embevecia os sentidos. Deixando os corpos atónitos. Completamente à deriva, viajando na sua música.

O músico que não fazia encores não permitia palmas a meio da actuação. Apenas no final. Levantava-se. Fazia uma pequena vénia, por boa educação e desaparecia no escuro da sala. Nunca voltava. Houve alturas até, em que o músico que não fazia encores tocava para lá do pano de veludo vermelho espesso, e ninguém o via. Apenas ouvia atentamente. Mas agora não. Agora mostrava-se numa sombra misteriosa reflectida na luz ténue que parecia também reagir às suas notas sublimes.

O músico que não fazia encores arrastava uma legião de fãs e enchia sempre todas as salas. Por maiores que fossem. Onde quer que fossem. Consta que ninguém conheceu ou viu alguma vez o músico que não fazia encores, mas também tal é perfeitamente natural pois às primeiras notas todos fechavam os olhos e ali ficavam como folhas a oscilar ao vento.

O músico que não fazia encores é uma pessoa humilde e reservada. Gosta apenas de apreciar as coisas simples e de as sentir intensamente. Gosta apenas que parem para o escutar. E não aprecia o adiar ou a repetição. O músico que não fazia encores nunca volta. Como tudo aliás, é uma frase usual do músico que não fazia encores.

12.21.2008

Orgasmos feministas

Asmática:
- Uhh... uhhh... uhhh...

Costipada
- Ahh... ahhhh... ahhhttttttt... simmmm

Professora:
- Sim... isso... por aí... agora... exacto... isso...

Professora de inglês:
- Yes !!! Follow me ...!!!! Follow me ...!!!! Yes...!!!!!!

Professora de francês:
- Ui très bien!!! oulala!!! très bien !!! ui...!!!!!!

Professora de geografia:
- Aqui, aqui, aqui, aqui...

Matemática:
- Mais, mais, mais, mais...

Veterinária:
- Vem, meu macho!!! Vem, meu macho!!!

Religiosa:
- Ai meu Santo, ai meu Santo...

Católica:
- Ai Jesus, ai Jesus...

Muçulmana:
- Ai Maomé, Maomé... Maomé...

Suicida:
- Vou morrer, vou morrer...

Homicida:
- Se paras agora, maaaaaatoooteeeeee!!!!

Desconfiada:
- Será... será... será....

Fã de Futebol:
- Vai... Vai... Vai...

Fã de Formula 1:
- Não pares! Não pares! Não pares!

Fã de Ténis:
- Pointttttt !!! Settttttt !!! Matchhhhhhh !!!

Fã dos Abba
- Mamma Mia, Mamma Mia... Mamma Mia...

Ambiciosa:
- Tudo!!! Dá-me tudo!!! Tudo!!!

Reservada:
... ... ... (ligeiro suspiro)

Pasteleira:
- Ai Meu Doce!!! Meu Doce!!! Meu Doce!!!

Delicada:
- Que delicia, que delicia...

Negativa:
- Não... não... não...

Positiva:
- Sim... Sim... Sim...

Pornográfica:
- PQP... FDP...

Gatuna:
Give it to me... Give it... Give it...

Sensitiva:
- Tou sentindo... tou sentindo...

Desinformada:
- Que é isto?... Que é isto?...

Informática:
- Ok... Ok... Ok...

Psicóloga:
- Freud... Freud...Freud

Política:
- Promete que não paras agora... Promete...Promete...

Bombeira:
- Fogo... Fogo...Fogo

Socorrista:
- Socorro... Socorro...Socorro

Hipnotista:
- Concentra-te... Concentra-te...Concentra-te

Astróloga:
- Ai meu Sol... meu Astro... meu Sol

Poetisa:
- Ohhh... Ohhh... Ohhh...

Educada:
- Please!!! Please!!! Please!!!

Maestrina:
- Andante!!! Andante!!! Andante!!!

Ansiosa:
- Então!!! Então!!! Então!!!

Pastora:
- Méeeee!!! Méeeee!!! Méeee!!!

Comunista:
- Avante... Avante...Avante

Impostora:
- Ai, é o melhor de sempre... o melhor... melhor...

12.20.2008

Buenos Aires aqui tão perto




Depois de ter comprado o bilhete religiosamente e imediatamente após saber da vinda dos Gothan Project a Lisboa e ter estado, por complicações de última hora, quase em risco de não poder comparecer, fazendo-me sair de Faro às 20h20 e chegar ao Campo Pequeno às 22h05, ainda com tempo para estacionar, tomar um café e levar uma cuba libre para o lugar (espero que nenhum polícia leia este blog) todos os problemas se evaporaram aos primeiros acordes e às primeiras danças das imagens. Nunca os tinha visto ao vivo e comprovei que tenho mais do que uma costela Argentina. Ainda bem que consegui. Ainda bem que pude sentir Buenos Aires aqui tão perto.

12.19.2008

O teu rosto

o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.

as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.

entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.

hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.


José Luis Peixoto



Há dias em que já não me lembro do teu rosto
Outros, em que simplesmente se enrrosca ao meu como dois lobos brancos.
Ali ficando, horas que parecem estações.
Descendo a montanha num cair de lua descalço.
Voltando sempre. Mesmo, por vezes, sem o lembrar

As aparências iludem

De facto, muitas vezes verdade. Querem ver?


12.18.2008

Prêt-à-Porter

Tenho uma amiga (não muito chegada) que trabalha em moda. É louca por moda. Está sempre a falar de moda. Assina um amontoado de revistas de moda. Vai a todos os eventos de moda. Escreve sobre moda. Respira moda. Moda. Moda. Moda.

Ontem num almoço rápido (que acedi apenas por me ter cruzado com ela e não a ver há muito tempo) com, ao que parece, mais duas especialistas do tema, depois de quase 30 minutos a falarem nonstop da recente viagem de uma delas a Milão, da colecção deste estilista, do vestido daquela, dos acessórios lindos de morrer e de um esgrimir de termos técnicos dignos dum debate entre as casas Gucci, Dior e Channel, eis que se lembram de que estou a partilhar a mesa e me resolvem chamar à conversa com a seguinte pergunta:

E tu? Ajuda-nos lá. O que é que gostas num estilista feminino?
Para mim é muito mais simples. Gosto apenas que torne as mulheres mais bonitas do que normalmente já são. Não gosto de grandes complicações. Sabem?

Sorriram. Mas fez-se um ligeiro silêncio incómodo. Como se tivesse proferido um atentado ao Corão. Limitei-me a finalizar a salada que também já se estava a sentir um pouco mal por os verdes, ao que parece, também não estarem na moda.

12.17.2008

Sonho lunar

andamos pelo mundo
experimentando a morte
dos brancos cabelos das palavras
atravessamos a vida com o nome do medo
e o consolo dalgum vinho que nos sustém
a urgência de escrever
não se sabe para quem

o fogo a seiva das plantas eivada de astros
a vida policopiada e distribuída assim
através da língua... gratuitamente
o amargo sabor deste país contaminado
as manchas de tinta na boca ferida dos tigres de papel

enquanto durmo à velocidade dos pipelines
esboço cromos para uma colecção de sonhos lunares
e ao acordar... a incoerente cidade odeia
quem deveria amar

o tempo escoa-se na música silente deste mar
ah meu amigo... como invejo essa tarde de fogo
em que apetecia morrer e voltar

Al Berto

12.16.2008

Reinventar a Democracia II

Continuação



1. Um único espaço para governar

Acabar com continentes, países, estados, fronteiras, bandeiras, distritos, capelas (menos a da Margarida Prieto para ver se é este ano que o glorioso faz juz ao nome) e vacas da vizinha (conotação indiana, atenção, pois não quero ferir susceptibilidades às minhas lindas vizinhas por quem nutro uma especial simpatia).

Seria o primeiro e, ao mesmo tempo, o grande passo de igualdade entre todos os Homens. Teria para nós a grande vantagem de nos libertar de todos os políticos nacionais, que apenas poderiam começar por treinar as modernas técnicas e estratégias de governação com o José Mourinho e o Nuno Rogeiro na Academia do Sahara Ocidental pois: teriam o famoso oásis, poderiam usar a não menos célebre tanga caso não se entendessem quanto ao mesmo, estariam por entre muitos camelos para não estranharem a diferença e poderiam ainda redireccionar o Jorge Coelho como Administrador duma empresa de extracção de areias.


2. Os melhores a dirigir e por mais tempo

A nova classe dirigente seria pequena como Marques Mendes, experiente como Manuel Alegre (mas a escrever livros), carismática como Churchill (à falta de exemplo nacional) e, já agora, em caso algum poderia comer bolo rei em público como Cavaco (já que estamos na quadra natalícia) sob pena de afastar definitivamente as gerações mais jovens da carreira política.

Ou seja, seria composta pelos melhores com critérios técnicos e emocionais, públicos e objectivos. Tão bons, tão bons, tão bons, que continuaria a não apetecer votar (mas pela razão inversa, ou seja, de se manterem em funções por serem mesmo bons).

Seria também uma carreira a full time, exclusiva, sem acumular cargos nem reformas antecipadas, e existiria (pelo sim pelo não) uma alínea explícita para garantir a exclusão (não vá o diabo tece-las) do Alberto João Jardim ao abrigo da impossibilidade de brincar ao Carnaval. Seriam escolhidos a dedo, por meritocracia, de forma mais rigorosa que os astronautas (apesar de reconhecer este termo como bastante infeliz pela aplicabilidade a uns quantos ainda em exercício).

Seriam muito (mas muito mesmo) bem remunerados, sendo respeitados e vistos como os melhores sem qualquer margem de dúvidas. Seriam uma espécie de “Deuses do Olimpo mas em São Bento” mas em versão sem tiques de poder e pragmática. Com mais dotes de acção que de retórica. Mais obra feita que mordomias. Mais figuras de exemplo que intocáveis.

Votar-se-ia não apenas para eleger mas também para avaliar, sendo essa avaliação efectuada (só para ser um bocadinho mordaz) pelos professores (que por sinal também ganhariam bem e seriam escolhidos também a dedo).

Os mandatos seriam mais longos (10 anos). Não existiriam cargos de nomeação política. Todos seriam profissionais de carreira e defensores dos direitos do Homem e das grandes causas. Obviamente, também ficariam de fora os presidentes de câmara e os dirigentes desportivos cujos fósseis seriam usados nos manuais escolares no capítulo das lapas e outros bivalves e as barbas serviriam para exportar cabeleiras de altíssima qualidade para os juizes que se seguem.


3. Pasta da Justiça e Reintegração Social

Existiriam menos delitos, fruto de uma melhor educação e duma justiça pragmática, perceptível e aplicada, com primazia do conteúdo sobre a forma. Com bom senso e, sobretudo, célere.

Existiria para cada processo um prazo de validade (como nos iogurtes) e uma ASAE menos fundamentalista mas igualmente implacável, com uma marreta de juiz (lá está, mas mais pesada ) para lhes dar nas mãozinhas (nunca bater na cara) dos que deixassem expirar os prazos. É que é um crime, por si só, deitar comida fora. Não acham? E, imagine-se, só seria possível recursos se o Benfica ganhasse o campeonato (o que nos tempos que correm convenhamos seria também um desafio).

Vigoraria o princípio de que o deliberado num caso aplicar-se-ia em todos os demais (apenas até se conseguir alguma coerência natural e para acabar de vez com a mania britânica de serem sempre diferentes dos outros), e todos os casos seriam deliberados por uma rede de 5 juizes experientes (uma espécie de Hi5 de batina preta, mas sem se estimular qualquer tipo de exibicionismo de gabardina).

Abolir-se-ia, finalmente, a pena de morte e os reclusos (coitadinhos) trabalhariam em prole da comunidade, ajudando por exemplo os actuais juizes (desprovidos das mordomias tradicionais e vestes intocáveis) a fazerem arquivo digital, exceptuando no seu período de férias, onde trabalhariam sozinhos para castigo (os juízes atente-se).



Continua com as restantes pastas e comentário às ministras nomeadas
(que salvo excepções ainda não se pronunciaram)

12.15.2008

Para um amigo tenho sempre


Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.


António Ramos Rosa

12.14.2008

The queen and the soldier


The soldier came knocking upon the queen's door
He said, "I am not fighting for you anymore"
And the queen knew she'd seen his face some place before
And slowly she let him inside.

He said, "I've watched your palace up here on the hill
And I've wondered who's the woman for whom we all kill
But I am leaving tomorrow and you can do what you will
Only first I am asking you why."

Down the long narrow hall he was led
Into her room with her tapestries red
And she never once took the crown from her head
She asked him there to sit down.

He said, "I see you now, and you are so very young
But I've seen more battles lost than I have battles won
And I've got this intuition says it's all for your fun
And now will you tell me why?"

The young queen, she fixed him with an arrogant eye
She said, "You won't understand, and you may as well not try"
But her face was a child's, and he thought she would cry
But she closed herself up like a fan.

And she said, "I have swallowed a secret burning thread
It cuts me inside, and often I've bled."
He laid his hand then on the top of her head
And he bowed her down to the ground.

"Tell me how hungry are you? How weak you must feel
As you are living here alone, and you are never revealed
But I won't march again on your battlefield,"
And he took her to the window to see.

And the sun it was gold, though the sky it was gray
And she wanted more than she ever could say
But she knew how it frightened her, and she turned away
And would not look at his face again.

And he said, "I want to live as an honest man
To get all I deserve and to give all I can
And to love a young woman who I don't understand
Your highness, your ways are very strange."

But the crown, it had fallen, and she thought she would break
And she stood there, ashamed of the way her heart ached
And she took him to the doorstep and she asked him to wait
She would only be a moment inside.

Out in the distance her order was heard
And the soldier was killed, still waiting for her word
And while the queen went on strangling in the solitude she preferred
The battle continued on


Suzanne Vega, The Queen and the soldier


Travamos demasiadas batalhas. A maioria delas completamente desnecessárias. Batalhas, vezes de mais, não profundamente questionadas. Simplesmente aceites, na velocidade do tempo ou nas vontades alheias. Batalhas que nada acrescentam. Batalhas impostas. Difíceis de mudar. Batalhas que tantas vezes nos consomem. Estou cansado de tantas batalhas. Mesmo das que trazem o ouro e os louros das vitórias. Demasiadas batalhas. Cansado de lutar por batalhas que já pouco ou nada me dizem. Que deixaram de fazer sentido. Um dia também hei-de dizer como na música desta Senhora que adoro: "I am not fighting for you anymore" nem que seja, talvez, o meu último dia. O dia, talvez, da minha última batalha.

Perdido

Estou perdido algures dentro de mim
Não sei há quanto tempo
Nem em que momento preciso
Em que parte ou lugar
Apenas sei que me perdi
Algures, dentro de mim

Sinto-o, por vezes, no correr do sangue
Numa imagem que me percorre
Numa frase que me toca mais fundo
Vindas de um país distante

Outras vezes, num arrepio
Numa emoção estupidamente fácil e intensa
Que nem percebo bem
á luz deste corpo onde me perdi

É capaz de ser importante
Saber que me perdi por lá
Pelo menos sempre é dentro de mim
E não noutro lugar qualquer
Onde me perdi

Como é possível uma pessoa perder-se assim?
Dentro de si. Alguém me sabe explicar?
Eu sinceramente não sei
Mas estou certo que por lá me perdi

Perdido, talvez, com a esperança que me encontrem
À espera, quem sabe, de alguém também perdido
Para, juntos, nos encontrarmos
E perdermo-nos, algures por aí
Algures não dentro de mim

12.13.2008

Everything will flow

Suede, Everything Will Flow

[ The neon lights in the night tonight will say
Everything will flow
The stars that shine in the open sky will say
Everything will flow
The lovers kissed with an openness will say
Everything will flow
The cars parked in the hypermarket know
Everything will flow ]



E assim se passou um Sábado constipado, de cama, a ver cinema Francês e a ouvir Britpop...

Secret garden

Um silêncio ecoando branco. Uma paz interrompida apenas por breves sons de aves exóticas. Diluído-se aos poucos na distância da paisagem. Fugindo ao tempo, numa luz quente absorvida pela pele. Mantida num calor morno, adormecendo as pálpebras.

Um jardim secreto que abre as suas portas entre dois mundos. Onde apetece entrar descalço. Sentir a frescura verde relva. O cheiro intenso e adocicado dos frutos. A frescura da água envolvendo os lábios entreabertos.

Um beijo teu, inesperado e pausado, colhe essa sede prolongando-a pela tarde fora. Deitados, lado a lado. À distância de uma mão. À distância da pele. No nosso lugar. No nosso jardim secreto.

Momentos

Nada existe na verdadeira plenitude. Tudo é relativo ao espectador ou actor. A quem, como, onde e quando age ou observa. Tudo é impossível de ser completamente revelado em certeza na nossa fugaz e etérea passagem. Insignificante, no tempo e no espaço. Tudo é mutável. Tudo incompleto. Tudo escapa ao preto e branco numa extensa palete de cores. Tudo. A única leve proximidade mais consistente nas nossas mãos é o momento. O breve e fugaz momento. Que, muitas vezes, já foi e já passou.

12.12.2008

Rain fall down

Rolling Stones, Rain fall down


[ And the rain fall down
On the cold hard ground
And the phone kept ringing
And we made sweet love ]

12.11.2008

Perdoai-lhes Senhor

A prova mais notória da minha actual incompatibilidade pessoal com os Deuses é acordar dum sonho, lindo de morrer, com o barulho metálico de uma criatura (para não usar um termo mais ofensivo) a cortar as unhas numa viagem no Alfa Pendular. Pensei em sugerir-lhe, com a devida delicadeza e protocolo, em sair na próxima estação e colocar os dedinhos nos carris mas preferi enviar um recado religioso (por pombo correio) directamente aos mentores de tal milagrosa aparição referindo "Compreendo! Perdoai-lhes Senhor que não sabem o que fazem". Voltei a dormir.

12.10.2008

Visita-me enquanto não envelheço

Visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos

antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro

perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te

Al Berto

É algures por aqui, que paira o meu silêncio inquieto, o que passei a prender fundo e a não te revelar. No desejo que me visites, por tua única vontade. Que me visites enquanto há tempo. Que me visites enquanto o que fomos e somos não envelheça aos poucos, na distância das palavras deitadas e dos olhares adiados. Que me visites antes que seja tarde de nos guardarmos em rugas.

12.09.2008

Natal desfocado

Pois é. Parece que estamos outra vez no Natal. Naquele das prendas fúteis e intermináveis. Naquele das filas nos shoppings. Naquele não saber o que se oferecer ou no ter já a lista de “encomendas” do que se quer. Naquele (mais grave ainda) não ter qualquer prazer em o fazer e mesmo assim ter de o fazer. Naquele ir ao El Corte Inglês (quase na véspera, a um dia de semana à noite) despachar tudo de uma assentada.

Parece que estamos outra vez no Natal. Naquela palavra antiga esvaziada de significado, vendida ao consumismo (até pareceu uma expressão comunista, quem diria?) Mas avante…

Estou a pensar seriamente em informar toda a família (pelo menos) e reverter todo o meu tempo, pachorra e dinheiro para uma instituição de caridade que de facto verdadeiramente precise e oferecer uma coisa tão simples como um postal a cada um. Com uma coisa sincera. Verdadeira. Sentida. Nem que seja “Este ano não me apetece dizer-te nada porque simplesmente e infelizmente nada tenho para te dizer. Desejo-te saúde. Que já não é nada mau para se desejar”. Que vos parece? Difícil de aceitar? Quer-me parecer que talvez seja.

No entanto, para ajudar ao consenso, sou capaz de exigir um pequeníssimo conjunto de prendas fúteis (mas que estou certo me assentariam muito bem) para ver se os demovo nos presentes. Para não ter de pensar muito podem ser (apenas, coisa simples) três acessórios indispensáveis a um Homem moderno:


Pronto, para quem não consiga mesmo resistir à vontade e insista mesmo em me oferecer algo pode ser um presente mais em conta:

E pronto. É tudo o que me apraz dizer sobre este Natal. E já sabem se me quiserem oferecer algo que não seja por escrita sentida. Tem de ser um dos presentes de cima. Arranjem-se!

12.08.2008

Fogo Posto, o tigre solitário

Dia e noite riscados no teu pelo sedoso. Onde existe um mapa secreto. Envolto num lago de fogo onde, em passos lentos, nos encontrámos rápido demais. Passos precisos e longínquos. Sinistros. Simplesmente porque estava assinalado numa marca. Porque assim tinha de ser.

Olhar magnético que se cruzou e despertou algo adormecido. Esquecido no tempo. Olhos guardiões de um segredo profundo. Onde mora algo meu. Num movimento. Num caminhar. Sono perturbante que me passou a visitar em sonhos. Subindo às árvores. Nadando na corrente.

Chamei-te Fogo Posto. Tigre que ora me prende ora me agarra. Que nada teme e me foge, ao toque, no silêncio nocturno. Que tudo desperta. Que me alastra na pele.

Solitários são os Tigres antes de se cruzarem.

12.07.2008

Cold moutain

Gosto de neve. Há algo profundamente tranquilo no branco silencioso de uma montanha. Um respirar de luz diferente. Que alimenta a alma. Um brilho com laivos de paz. Ar repleto de ecos de tempo. Onde o nada se reencontra a sós comigo. Numa espécie de viagem, onde morro cansado e regresso renascido.

Quando tudo parece correr mal e nada parece bater certo tenho um cantinho secreto onde gosto de ir. Um pouco longe, é certo. Não muito barato, pois sim. Mas onde vale sempre a pena. Onde aprecio cada quilómetro da longa viagem, normalmente nocturna.

Pequenos prazeres me esperam sempre. Mergulhar num banho quente com vista para a extensa paisagem branca, que fala na fragilidade das coisas preciosas e me escuta sempre, sem nada ter de dizer. Beber um brandy à lareira com uma música calma. Aquecendo sentidos. Apurando sensibilidades cansadas ou magoadas.

Volto sempre liberto e tranquilo. Sempre leve como uma música. Sempre com um sorriso. E com vontades. Vontades de deitar a língua de fora aos Deuses que me conjuram. De não lhes fazer a vida fácil. De lhes dar luta.

Gosto de neve e do meu cantinho secreto.

12.06.2008

Identidade

Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento.

Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a cada grito.

Mas como as inscrições nas penedias
Têm maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.

Miguel Torga

12.05.2008

A vida é bela

Depois de mais um capricho despropositado e completamente idiota da minha famosíssima e importantérrima Administradora, provocado certamente por um “dia difícil” ou alguma frustração pessoal, de quem não tem vida própria, vive meramente para o trabalho, e fica incomodada por quem (apesar de sempre profissional) tem outros interesses, eis que de um momento para outro se lembra quinta-feira às 19h00 que um projecto que estava calendarizado para uma semana tinha de ser impreterivelmente acabado e entregue até sexta-feira.

Como se tal não bastasse, eis que impõe, sem qualquer argumento válido, que deverá ser executado em parceria com uma Directora de outro departamento e, como tal, tem de ser feito no escritório.

Apesar de mostrar o meu desagrado (não pelo timming imposto ou consequente noitada) mas pela imposição de estilo, metodologia e, sobretudo, por saber da falta de necessidade da situação (e ainda pelos comentários, no mínimo, tristes a alguns dos argumentos), passei à postura “Assim seja feito, aqui na terra como no céu”.

Conclusão: Noitada até às 3h00 da manhã com a minha colega, ir a casa tomar um banho e mudar de roupa, vários cafés, regresso sexta feira às 7h00 com horário nonstopped até às 00h30 e várias cenas intermédias dignas de um filme do David Lynch que nem me apetece relatar.

Mas pronto. Missão cumprida. Fim-de-semana grande. Programa interessante já agendado e Exma. Sra. Administradora feliz (se não, problema dela) com uma mensagem para o blackberry com frase final a dizer “a vida é bela”.

12.03.2008

Só existes nos meus dedos

Meus dedos
lentos
percorrendo
a medo
teu corpo
aberto
oferto.

Meus dedos
surpresos
soltando
o calor
o cheiro
de teu corpo
descoberto.

Meus dedos
olhos
trazendo
imagens
mensagens
ao meu corpo
trémulo.

Esqueci
teu nome
teu rosto
o quando
e o porquê
Só existes
em meus dedos

Eugénia Tabosa

12.02.2008

Arquitectura #5






Requinte de tradição e contemporâneo desportivo. O detalhe do pequeno pormenor manual. O passar do tempo demorado O chá inglês com brandy à espreita. O clássico intemporal com toque de aventura e glamour. Mais do que uma das minhas lojas de eleição. Um ambiente arquitectónico. Onde sempre me perco.

[Lojas Alfred Dunhill]

12.01.2008

Remember me


Placebo, Speacial needs

[ Remember me when you clinch your movie deal
And think of me stuck in my chair that has four wheels
Remember me through flash photography and screams
Remember me, special dreams ]

11.30.2008

Querer

As pessoas querem ir para casa cedo, ver televisão. Ou sair até de madrugada na procissão dos locais-in do costume.
As pessoas querem chegar sempre mais depressa. E correm. E ficam presas nas filas. E usam relógio. E "já te ligo que estou atrasada".
As pessoas querem telemóveis último modelo, carros desportivos, roupa de marca.
As pessoas querem grandes repastos. Barbecues no jardim. Se possível sem sujar as mãos. Sem muito trabalho. E depois fazer dieta. Ir ao ginásio.
As pessoas querem ganhar mais dinheiro. Subir na carreira. Mesmo que fiquem sem tempo para o gastar.
As pessoas querem relações duradouras. Imbeliscáveis e perfeitas. Para toda a vida.
As pessoas querem apenas a felicidade extrema. Num comprimido milagroso. Nada mais.
As pessoas querem que tudo lhes seja servido numa bandeja de prata.
As pessoas querem que lhes digam o que fazer. Respostas fáceis. Receitas para tudo.
As pessoas querem que as ouçam sempre mas escutam tão pouco.
As pessoas querem ser urbanas e ultramodernas. Rejeitam o campo, acham saloio a terra e as origens.
As pessoas dizem-se liberais mas seguem caminhos conservadores: estudo, emprego, casamento, filhos. Por esta ordem precisa. Exacta.
As pessoas querem acreditar apenas no que faz sentido. E no que lhes chega aos ouvidos. No que é notícia e como tal paradigma. Sem investigar fontes ou procurar o contraditório. Opiniões já mastigadas. Prontas a usar.
As pessoas querem férias na praia. Destinos de ócio sem história ou descoberta.
As pessoas querem ganhar o Euromilhões. Fazer compras no shopping e futebol ao Domingo.
As pessoas querem ser como as estrelas de cinema ou top models mas são cada vez mais iguais.
As pessoas vibram com o Cristiano Ronaldo, suspiram pelo Brad Pitt e comovem-se com a Lady Di e passa-lhes, muitas vezes, ao lado o Dolstoievsky, o Fellini, a Maria Callas ou a Madame Curie.
As pessoas querem planos futuros traçados ao milímetro. Sem paragens. Sem desvios. Linhas rectas profundamente cinzentas. Investindo tempo e energia em futilidades que nada acrescentam. Tão menores ao pé do saber dum carvalho secular.
As pessoas querem, e deve ser bom querer assim. E atentem. Não sou melhor nem pior. Apenas estou em crer, repito, que deve ser bom esse querer. Sinceramente, sem ironias. Assim tão certo. Tão exacto. Apenas queria, um pedacinho, que fosse, desse querer. Desse inabalável querer que as pessoas tanto querem.

11.29.2008

Pérolas de uma semana ausente

Só para provar que se pode discutir política, futebol e religião, ainda por cima ao mesmo tempo.


“Cavaco Silva ficou incomodado com o envolvimento do seu nome no caso BPN”
Ao que consta está tudo explicado, fonte segura revelou que tal se ficou meramente a dever a um erro tipográfico envolvendo o seu nome, passando a imagem de uma empresa em fuga descarada, nada mais nada menos que Cava & Co.


"Miguel Veloso declarou no final do jogo Sporting-Barcelona que não entrámos bem no jogo, tivemos a infelicidade do 2º golo e depois do 3º e também do 4º”
Pois Miguel, é certo que uma infelicidade nunca vem só e, se uma ainda se percebe, assim tantas já é uma tragédia grega. E essa, infelizmente, envolve também o Benfica.


“A modelo checa Karolina Kourkova, eleita pelo canal E! a mulher mais sexy do mundo em 2008, não tem umbigo”
Consta que foram dadas conferências de imprensa da parte de um conjunto considerável de umbigos que, com discursos políticos, juraram por Deus serem o seu desde pequeninos e que iriam honrar a sua camisola.

11.28.2008

Bar aberto

Este espaço esteve encerrado uma semana. É curioso como pode ser muito tempo uma semana. Teve, não a morte anunciada [pois alerto quero morrer de repente sem despedidas], mas uma paragem meditada e decidida. Por longo tempo. Por tempo indeterminado. Talvez para sempre. Por um propósito descoberto. Por um fechar de ciclo.

No entanto um novo propósito foi descoberto. Rápido e surpreso. Como as melhores coisas normalmente acontecem. Recentemente li também, num blog por onde passo, que estes espaços não se deviam fechar, podiam ter pausas [isso sim], mas não deveríamos “matar” parte de nós. Em certa parte concordo e ajuda a reforçar a ideia.

Continua, no entanto, a ser válido tudo o que disse. Não gosto de incoerências, apesar de também as cometer. Faz parte da imperfeição humana que gosto de ter. Continuas a fazer parte dele. A ser teu, por direito próprio [pelo menos até ao post anterior]. E continuarás, por certo, a estares diluída nalgumas passagens, nalguns quadros ou cores, cheiros ou sonoridades, pois continuas a correr-me no sangue.

No entanto quiseste que continuasse por aqui e encontrámos uma forma de o poder fazer. De me sentir em paz. Obrigado por isso.

Volta assim o Dry-Martini, agora com um primo mais novo, Gin-Tónico, que manterá os seus contos, quem sabe se com a colaboração de alguns dos leitores mais assíduos. Quem sabe se com novos propósitos ainda por descobrir. Rápidos e surpresos. Como gosto.


Façam o favor de ter um bom fim-de-semana.
XinXin

11.14.2008

Bom fim de semana

Avisam-se todas as azeitonas e palitos eventualmente interessados [vá-se lá saber porquê] que pela falta de transparência psicológica habitual, excesso de agitação [quase a puxar à mexidela proibitiva] este modesto cocktail vai partir para parte incerta, por tempo indeterminado...

Qualquer assunto mais urgente avisem por pombo correio.

11.13.2008

Todos os dias

Sempre gostei de dias 13.
Obrigado pelas palavras de hoje. É que estava mesmo a precisar.
Fazes-me bem. Espero fazer o mesmo em ti. Sempre.
Todos os dias.

A concha

Da concha
rubra
retiro
fluida
alva
tuas líquidas
sementes
que trago
entredentes

Na concha
rubra
mergulho
com a ponta
do arpão
que perturba
e escuta
teu íntimo
rumor

Na concha
rubra
busco
a pérola
úmida
ardente
que me faz
ser
quem sou

Ivan Miziara

A morte das palavras

Ando a sentir uma pálida fragilidade nas palavras
Um desfiar de mim que se tem solto sem lhe pegares
Deixando as asas presas em terra. Como folhas de Outono
Trespassadas. Secas. Perdidas.
Não sei quanto mais tenho para lhes pôr
Nem por quanto mais tempo resistirão
É que são apenas palavras
E as minhas palavras, estão a morrer

11.12.2008

Nokia

Só para informar os meus estimados leitores que possam, eventualmente, estar a pensar em pedir ao Pai Natal um telemóvel novo (conferindo também a este espaço um pouco de utilidade pública) que os Nokia são de facto equipamentos muito resistentes, sim senhor, mas não resistem ao rodado de um BMW X5 ao atravessar a estrada. É que esta informação normalmente não vem na embalagem nem nas revistas da Proteste. Após este alerta, que espero útil, informa-se também que, se necessitarem de peças sobresselentes, ainda que um pouco espalmadas (óptimas para enviar por envelope postal) façam o favor de solicitar. Terei também todo o prazer em vos esclarecer qualquer dúvida relativa a queda dos mesmos de décimos andares, afogamentos em piscinas ou mesmo novas ideias para brindes Kinder Surpresa em receitas culinárias. Efectuarei o contacto por sinais de fumo ou pelo, já famoso, pombo correio.

Toma lá e vai buscar

- O que queres ser quando fores grande?
- Hummm... [com um ligeiro contorcer de sobrancelha]. Criança. Quero ser sempre criança. Acho que muita ambição pode levar a perder muita coisa. Se for criança terei sempre muitos sonhos e isso é bom.


Adoro este puto. Tem muita pinta.

11.10.2008

À espera de ti

Espero a dúvida, nunca a certeza
Espero a descoberta, a curiosidade, a inspiração
Espero a surpresa
Espero o acaso, o improvável e o incerto

Espero encontros e reencontros, nunca despedidas
Espero o oriente, o encurtar das distâncias
Espero a viajem e o mistério
Espero os silêncios nocturnos e o calor do sol

Espero mais o dia de hoje que o de amanhã
Espero a humildade e estar sempre atento, sempre presente
Espero os primeiros dias de chuva e o cheiro da terra molhada
Espero desprover-me de fé e ser pouco racional

Espero loucura e demência ao inconformismo amorfo
Espero a palavra por inventar e os brilhos músicais
Espero as rugas vividas, nunca as lamentadas
Espero respeito, educação, o alento

Espero pensar mais nos outros do que em mim
Espero o impossível
Espero nunca ser perfeito, errar e voltar a errar
Espero não ser insosso e sempre um bocadinho picante

Espero mais os ecos que as palavras lançadas ao vento
Espero manter o instinto e o impulso
Espero sentir mesmo o que doa mais fundo
Espero não magoar ninguém por falta de atenção

Espero sempre saber pedir desculpa e dar o braço a torcer
Espero um sorriso, muitos, mil sorrisos
Espero continuar a saber esperar, a poder esperar por ti
Espero conseguir dizer-te sempre tudo, sem nada guardar

Espero não me guiar por regras ou profetas
Espero nunca prometer mas sempre cumprir
Espero perder-me no extenso deserto da tua pele
Espero encontrar-me, um pouco mais, na espera

Espero a tempestade
Espero o bater de asas, o mar revolto, a tentação
Espero nunca perder o teu cheiro
Espero que o fogo posto que me ateaste nunca se consuma

Espero prolongar-te no sangue, trazer-te dentro de mim
Espero conseguir tocar-te, sempre, por mais leve que seja
Espero tudo o que valha a pena esperar, o que não possa ou deva ser esperado
Espero que não queiras mais esperar. Todos os dias. Todas as noites.

Nada espero que não tenhamos já esperado os dois
Nada espero para mim, por vontade própria,
Para além desta espera. Incessante. Sempre presente.
Esta espera de mim dentro de ti. De ti dentro de mim.

Esta espera simples e tão despida de tudo
Esta espera de ti

11.09.2008

Gone to eaven


There was a guy
an under water guy who controlled the sea
got killed by ten million pounds of sludge
from new york and new jersey
this monkey's gone to heaven

The creature in the sky
got sucked in a hole
now there's a hole in the sky
and the ground's not cold
and if the ground's not cold
everything is gonna burn
we'll all take turns
i'll get mine, too
this monkey's gone to haven

Rock me joe!

If man is 5
then the devil is 6
then god is 7
this monkey's gone to heaven

Pixies, This monkey gone to eaven



Acordei com esta música, que não ouvia há anos, e com a certeza de que não irei para o céu.

Sibyl, a gecko butanesa

Calor húmido colado à pele. E um acordar sobressaltado. Um aviso. Um arrepio. Da janela aberta, a noite mansa. Calma. Eterna. E, ao longe, a Gangkhar Puensum, a mais alta montanha nunca escalada. O pico branco dos três irmãos espirituais.

Amanhã seria o dia. O dia em que a tentaria escalar. Em segredo, naquele país longínquo. Misterioso e proibido. A terra do Dragão. O dia em que talvez nunca regressaria. O último ou o primeiro de todos os dias.

Sentia uma presença no quarto. Camuflada mas intensa. Iluminada por um branco tépido de luar atento. Algo espiritual escorria pelo transpirar do corpo. Por entre o calor. E eis que te vi, suspensa, por entre as sedas exóticas. Quase imóvel.

Sibyl, a gecko butanesa, olhando-me fixamente com seu doce veneno. A invadir-me o sangue, nesse ópio de delírios recônditos. Milenares.

Ficámos assim, presos, não sei por quanto tempo. Numa espécie de fotografia roubada ao tempo. Num magnético contacto entre dois mundos, com a montanha de fundo. Que me quererias dizer Sibyl? Quem te enviara? Seriamos nós os três irmãos espirituais? Tu, eu e a montanha?

Nunca o saberei, mas mantenho a tua imagem perturbadora. De hábitos nocturnos. Deixando a presa indefesa. Imobilizando-me nos teus olhos de jade.

Parti cedo. Muito cedo. O tempo mudara. Nevava. Foi o dia mais frio do ano. E nunca mais vi Sibyl, a gecko butanesa.

Assíduos do shaker

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