Apesar do sofrimento que lhes dava origem, parecia-lhe que nesse tempo ainda havia algo que as transformava em coisas belas, puras, coloridas, cheias de emoção e sentimentos, como se a sua fábrica de lágrimas conseguisse produzir algo. Agora ... era diferente ... agora parecia-lhe que as mesmas lágrimas eram vazias, sem sentido e ainda mais sofridas, por isso mesmo.
Olhou o limo, piscou os olhos involuntariamente, imitando o bater das pestanas douradas dele, como os apaixonados fazem inconscientemente quando se encontram frente a frente e perguntou-lhe: "Que hei-de fazer com as minhas lágrimas? Como te posso ajudar, se nem eu
sei já o que fazer delas?" E o limo respondeu-lhe numa voz doce e trémula, frágil mas esperançosa, estendendo o fino braço que se dobrou na sua direcção como a haste verde de
uma flor: "Oferece-mas. São como água para mim. Preciso delas para não murchar."
sei já o que fazer delas?" E o limo respondeu-lhe numa voz doce e trémula, frágil mas esperançosa, estendendo o fino braço que se dobrou na sua direcção como a haste verde de
uma flor: "Oferece-mas. São como água para mim. Preciso delas para não murchar."
Puxou as mãos do limo, lentamente, na leveza duma carícia, juntando-as numa concha. Olhou-o profundamente nos olhos e ali permaneceu. O tempo dos seus olhos nos dele percorreram mares e desertos, silêncios e tempestades. Uma viagem a um mundo desconhecido mas com um caminho traçado. Como se sempre o tivesse conhecido. Parou num prado verdejante, cortado por um desfiladeiro enorme onde se sentia o vento nos cabelos. Ao olhar para baixo, penetrando na vertigem do espesso negrume, sentiu uma tristeza apoderar-se de si. Como uma hera a crescer, enrolando-se ao corpo. Uma tristeza inimaginável. Do mundo. Séculos de tristeza concentrada.
Não conseguiu aguentar mais tempo e libertou o olhar do limo em lágrimas. Espessas, percorrendo o rosto, corriam magneticamente atraídas para a concha formada pelas mãos do limo.
To be continued...
Em colaboração com Andrómeda
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