"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem."
B. Brench
O caminho encurtava à medida que avançava. Comprimindo o peso dos espaços vazios contra o seu corpo. Asfixiando-o. Concentrando-lhe o olhar num ponto longínquo. Indefinido. Como se nada existisse em redor. Apenas aquela direcção ténue. Aquele ponto mais brilhante. Aquele lugar protegido. Algures, lá longe.
Os pés caminhavam agora, a medo, sobre uma linha cada vez mais fina e difícil de seguir. Uma lâmina afiada desafiando o equilíbrio. Fazendo-o balançar.
Dum lado, a sensação de transpor uma cascata, evadido por um suceder de bandeiras de céu que lhe tocavam no rosto, confundindo o olhar numa maresia azul a invadir a alma. Do outro, a atracção do abismo, sussurrando segredos por desvendar. Um infinito de noite e silencio em que apetecia mergulhar.
Continuou, passo a passo, já em território sagrado. Nunca pisado. Proibido. Sentia vozes enfurecidas no vento e um suave chamamento. Um uivo ferido, na folhagem, em pequenas gotas de luar. Estava muito perto. Sabia-o. Mas não conseguia decifrar o que avistava.
Estava esgotado e não conseguia parar. Olhou para traz num breve segundo, como numa subconsciente despedida. Ao tirar os olhos do ponto apenas ouviu um barulho de pássaros assustados e uma linha invisível a vibrar.
Fechou os olhos e respirou fundo. Nunca ninguém estivera tão perto…
1 comentário:
O jogging anda-lhe a dar a volta à cabeça :)
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