No Palácio Mocenigo onde viveu sozinho
Lord Byron usava as grandes salas
Para ver a solidão espelho por espelho
E a beleza das portas quando ninguém passava
Escutava os rumores marinhos do silêncio
E o eco perdido de passos num corredor longínquo
Amava o liso brilhar do chão polido
E os tectos altos onde se enrolam as sombras
E embora se sentasse numa só cadeira
Gostava de olhar o vazio das cadeiras
Sem dúvida ninguém precisa de tanto espaço vital
Mas a escrita exige solidões e desertos
E coisas que se vêem como quem vê outra coisa
Pudemos imagina-lo sentado à sua mesa
Imaginar o alto pescoço espesso
A camisa aberta branca
O branco do papel as aranhas da escrita
E a luz da vela – como em certos quadros –
Tornando tudo atento
Sophia de Mello Breyner Andersen
1 comentário:
Sempre que lemos alguma coisa, que escrevemos a alguém ou para alguém criamos as nossas imagens. Sabes uma coisa? Nunca correspondem à realidade. É a verdade, para o bem e para o mal. Nua e crua, como algumas das coisas que lemos. E escrevemos...
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