Sentado no escuro nada via em redor. Não só pela noite espessa e silenciosa mas sobretudo pela escuridão interior em que se encontrava. Sentia-se como que um prolongamento da noite, simbiose perfeita, sem forças para reagir. Apenas a brisa gelada batendo no rosto e mãos lhe lembravam que ainda ocupava espaço e possuía forma, tal a camuflagem. Como que a desaparecer, diluído no escuro, acendia um fósforo, a custo. Contrariando momentaneamente essa ausência de si. Tornando tudo atento.
Contemplava o seu brilho, o seu calor, trazendo-lhe memórias, ideias, texturas, lugares sem qualquer nexo ou ligação aparente. Como que a querem salvar-se do afogamento no denso crude que se apoderava de si.
Fósforo a fósforo, absorvido pela vastidão do escuro, que tudo lhe sorvia, sentiu medo. Um medo de criança perdida no escuro. Que seria de si quando lhe restasse apenas um fósforo? Noite densa. Silêncio e pauzinhos no chão.
1 comentário:
E é a esse único fósforo que, por vezes, nos resta, que nos devemos agarrar para saírmos da escuridão em que por vezes mergulhamos.
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