Sempre que era tocado produzia todos os choros do mundo.
Nas suas cordas viviam punhais que cravejavam a pele, bem fundo. E o tempo parava sempre para o ouvir. Incomodado com tal estremecer.
A sua forma tinha as curvas femininas e os penhascos para o fogo dos infernos, numa madeira exótica que apetecia tocar, a medo, como um felino que atrai a presa.
A sua sombra era estranha cobrindo pontos impossíveis de um manto que parecia sussurrar ao ouvido.
Das suas frestas emanava um calor tocante, comestível, com cheiro a castanhas assadas.
Da sua cor amavam-se fogo e sangue, em louca paixão. Nninguém ficava indiferente às suas vibrações vertiginosas de baleia a embater violentamente no mar. Beleza crua e pura assombração.
Nunca se soube a sua origem, dono ou idade. Apenas uma certeza. Aquele violino vermelho continha todos os choros do mundo.
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