2.11.2007

O inquilino

“Protect me from what I want... Protect me protect me”

Placebo



Algo mora em mim. Não sei quando nasceu, como apareceu ou o que deseja, mas instalou-se e ficou. Não conheço o meu inquilino pessoalmente. Não sei se é homem ou animal, masculino ou feminino, anjo ou demónio. Se o conhecesse não sei se lhe apertaria a mão ou colocaria as duas à volta do seu pescoço.

Não consegui ainda perceber o que é ou em que parte habita. Para ser sincero, só muito recentemente tive a certeza da sua existência. Podia ser uma miragem, um sonho, uma impressão no ouvido ou arrepio na pele. Mas quase apanhei o malvado um destes dias. Devia estar mais sonolento, quem sabe.

O meu inquilino é um cavalo alado, de cor branca invisível. É terrível e não dá descanso. É capaz do mais belo ao aterrador. Tem o prazer maquiavélico de dar ideias e comandar meus ímpetos. Faz olhar o insignificante pormenor, sentir o que nunca existiu, sonhar acordado num viajar constante. Habitua a desejar impossíveis ou a absorver pequenos nadas com que se alimenta.

O meu inquilino surge em relâmpago para sair a galope. Não tem sela, dorme pouco e não paga renda.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quantos de nós não preferiríamos ser "apenas" inquilinos de nós mesmos...

Andrómeda disse...

Eu já lhe disse que o senhor escreve muito bem? :)

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