Olhava para as pessoas comuns e ouvia-as sempre sem som, esvaziadas de palavras. Tentava antes ler-lhes o que morava por dentro delas: os gestos límpidos e inatos, alheios ao movimento fácil dos lábios. Ás vezes ouvia-as com o barulho do mar ou colocava-lhes uma banda sonora, escolhida cuidadosamente, que lhes prendia os gestos num movimento mais lento, e ficava assim, ali, a olhar para elas, absorvendo a sensibilidade inocente, impossível de encenar neste mundo de palavras gastas e faz-de-conta. Falava cada vez menos, refugiando-se em longos textos sentidos que rasgava por não querer falar sobre eles. Abraçava as amizades com quem privava com uma força frágil e demorada de quem abraça o vento. Abria um bom vinho e preparavam entradas inventadas que serviam de jantares tardios onde se falava de tudo quase sem palavras. Percebia a escassez do tempo e a magia do silêncio partilhado. As palavras? essas oferecia-as com a pimenta do humor e no sal de um beijo colado à testa.
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