As imagens passam umas atrás das outras, aleatórias, dispersas, sem qualquer pressa ou razão. Passam apenas, por um qualquer desígnio universal, empurradas como por uma cadência plástica de projector de slides que surpreende o escuro por já não se usar, arrumado numa caixa perdida na arrecadação.
As imagens passam. Passam, com o que nunca se apercebeu e com o que nunca se verá plenamente. Passam com o que de nós lhes entregámos e com o que nunca se viveu ou viverá e no entanto está lá estampado, impregnado.
Passam, numa leveza estranha, quase poética, que se faz pesada e afunda em música no corpo, dissipando um tempo que se sente a textura, que mesmo aprisionado se agita até se revelar noutras imagens que lhe seguem automáticas, imprevisíveis, nascidas dum lugar distante mas tão próximo ao mesmo tempo.
Com o tempo despedimo-nos das coisas reais e conhecidas para abrirmos as portadas da alma a andorinhas de cal, que nos pintam as pálpebras por dentro do escuro em imagens que passam, umas atrás das outras, sem qualquer pressa ou razão.