Há muito tempo que não escrevia na primeira pessoa. Talvez por existirem quase sempre muitas pessoas à frente, remetendo a "primeira" para uma espécie de observador sentado numa núvem [narrador atento, eterno suplente], só descendo numa emergência ou aflição.
Quando se conhece bem uma pessoa, ela é também muito aquilo que não precisa de dizer. Muito do que observa e absorve e lhe passa a correr no sangue, muito do que guarda em fotografias de película fina entornadas um pouco no olhar, muito do que faz sentir, sem necessidade de escritos ou de qualquer palavra.
Há muito tempo que não escrevia na primeira pessoa e não sabia mesmo se o voltaria a fazer por aqui. Não por decoro ou reserva, receio ou modéstia, talvez apenas por saber da fragilidade das palavras e dos ouvidos das pessoas, que tantas vezes criam ou tomam para si sentidos que nunca existiram, lá está, na tal "primeira" pessoa.