7.14.2008

Velejar

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.


Sophia de Mello Breyner Andersen

3 comentários:

Eyes wide open disse...

À primeira leitura lembrou-me um livro sublime que li em tempos, sobre um rapazito que sobrevive a um naufrágio e permanece numa jangada com algumas feras. A vida de Pi de Yann Martel. E sou muito fã de Sophia.


*

Noiva Judia disse...

Que bela recordação. A Sophia é uma das minhas poetisas preferidas.

Dry-Martini disse...

Minhas caras, ninguém que goste de poesia consegue não ser fã da Sophia .) Mas gostei de saber :)

XinXin

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