2.27.2007

Espelho

Como todas as noites preparava-se para se deitar. Escovava calmamente seus longos cabelos, sentada e já de camisa de noite, pensando no dia que agora acabava. Mas, à terceira escovagem, algo inquietou o seu olhar.

Ao tocar no espelho um arrepio intenso invadiu-a pelo indicador. Sentia a estranha sensação de estar despida do seu corpo. Havia algo familiar na imagem mas profundamente diferente, como um aviso, um alerta. Os olhos não eram os seus. Olhando mais atentamente não reconhecia as suas feições, as rugas, os sinais e, acima de tudo, uma ausência total do calor da sua pele.

Diante de si fixava-a um boneco articulado que teimava em acompanhar os seus movimentos. Uma frase, tão súbita quanto o arrepio, ecoou na sua cabeça fazendo cair a escova que se partiu em mil pedaços. Espelho meu existirá alguém mais fria do que eu?


1 comentário:

CB disse...

Este texto arrepia. Sente-se o frio desde o início. Estranho, como as almas se podem encontrar nos espelhos, na vista da cópia do corpo. Ou como o corpo também pode espelhar a alma.

Estranha coincidência de opostos.

Assíduos do shaker

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